Vitória final dos machos

Se eu fosse mulher, garanto que faria tudo para ser apenas mulher. Pois, se há milagre e mágica na vida, se há beleza isso está na mulher. É a síntese de tudo. Do simples e do complicado, do doce e do azedo, do adorável e do detestável, do generoso e do cruel, de deuses e de demônios. Mulher é, ao mesmo tempo, diaba e deusa.

Um homem – para ser homem em plenitude – precisa, penso eu, mergulhar nas profundezas desse mistério insondável e, por fim, conseguir entender mulher. Bastaria entender apenas uma e por única vez na vida. Há, porém, o obstáculo intransponível: para conhecer, entender, compreender mulher o homem teria de nivelar-se a Deus. Ou ao diabo. Pois apenas Deus e o diabo são capazes de – dia e noite, semanas, meses, anos sem fim – conviver com mulher, não importa qual seja, incluindo a mãe. Mesmo assim, desconfio de, às vezes, nem Deus nem o diabo conseguirem-no. Não seria por isso que Deus dormiu no sétimo dia e nunca mais se soube de Ele ter acordado? E o diabo que, de repente, some como que assustado? Em sumiço do demo, o francês sabe explicar: “cherchez la femme”.

Mas essa escrevinhação é a respeito do que eu pensava antes, entre deslumbrado e fascinado, assustado e intrigado. Hoje, não. Reflito sobre Adão que, descontrolado, foi até Deus: “Não consigo viver com ela.” Deus aceitou Eva de volta. Passado algum tempo, Adão retornou: “Não posso viver sem ela.” Generoso, Deus lhe devolveu a mulher. Uma semana após, Adão, de novo: “Não dá.” Deus recebeu Eva, mas Adão apareceu, dias depois: “Quero-a de volta. Não sei viver sem ela.” Deus irritou-se: que se resolve-se de vez, homem tolo! Derrotado, Adão confessou: “É esse o problema: não sei viver sem ela e não posso viver com ela.”

Fosse hoje, Adão teria enlouquecido em definitivo. Começa que, olhando quem passa – “a coisa mais linda, mais cheia de graça” – dúvidas cruéis já perturbam o encanto: o que tem de verdadeiro nela, o que é original? Há homem que, pelo olhar, radiografa: “300 gramas de silicone em cada seio; cinco lipoaspirações na barriga, outras nas nádegas, nas coxas, na batata da perna; três plásticas no rosto, incluindo pescoço; próteses nos quadris e nos dentes; botox habitual; cílios postiços; cabelos pintados; cor dos olhos, falsa.” E, então, desanimado, entra na loja, pede uma boneca inflável, suspira: “Fica mais barato. E tem outra vantagem: não fala.”

Ora, é óbvio que mulheres têm lá, também, suas aflições em relação aos homens. Lembro-me da amiga que me confidenciou um dos lamentos femininos: “falta homem.” Nervoso, contei a alguns amigos que, pensei, fossem animar-se, aproveitar a carência na praça, sei lá. Mas quê! Um ia para a casa cuidar dos netinhos, até a mãe e a avó deles retornarem da ginástica. Outro, deixara “a panela no fogo para fazer o jantar”. O terceiro precisava terminar de passar roupa, antes de a mulher voltar do trabalho. Infeliz, fui, também, para casa. Regar plantas.

São, porém, radiosos, os tempos, para os homens. Deixamos de caçar, dominamos o resto do mundo. Quem são os melhores cozinheiros? E modistas? E maquiadores e cabeleireiros, os melhores quem são? Homens, eis o óbvio glorioso. E, agora, na Europa toda o fenômeno se multiplica e, no Brasil, já se sabe entre os que ministram terapia artesanal: homens são muito mais criativos, capazes e eficientes do que as mulheres fazendo tricô, quem diria? É a vitória definitiva do macho. E bom dia.

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