“Bufão, mas funciona…”

A internet – com todos os problemas que traz e a sua inegável carga de poluição cultural – é a grande esperança, já se tornando realidade, na democratização mundial da informação. Desde quando os veículos de comunicação se transformaram em poderosas e grandes empresas, foi-lhes inevitável a dependência às leis do mercado e aos compromissos, acordos e alianças subseqüentes. Com isso, a limpeza da informação esvaiu-se. E de tal forma que se tornou comum e necessário, diante de acontecimentos mais graves, perguntar-se: “o que há por trás disso, onde está a verdade dos fatos?” Com veículos dependentes, a credibilidade da informação se esvai.

Ora, qualquer veículo de informação – seja lá de que natureza for – tem direito à sua própria opinião, à sua ideologia, às suas definições inclusive politicamente partidárias. São balelas e falácias as proclamações de “jornalismo imparcial e objetivo”, pois somos parte do todo. Ser parcial é ser parte. O que não se suporta e não se concebe é a sonegação e a mistificação da tendência ou da escolha feita. Quando se mistifica, polui-se a informação e, portanto, ludibria-se a outra ponta da comunicação, o receptador, o leitor, o público, o ouvinte, o telespectador.

Quando se foge de estruturas da chamada democracia liberal que, na verdade, se confundiu com a economia neoliberal, tudo passa a ser condenado, como se não existissem outras vias, outros caminhos, novas possibilidades. As regras são rígidas e pétreas para a defesa do neoliberalismo, que escondem economias de um capitalismo ainda em sua versão selvagem, como ocorre nos povos em desenvolvimento. É o que acontece, esse capitalismo selvagem, na Índia, na África, na América Latina, na Ásia, incluindo a China com a sua híbrida experiência de organização política comunista com economia mista, de Estado forte com aberturas capitalistas.

As democracias de países em ascensão têm servido mais à consolidação de impérios econômicos do que à busca de uma justa distribuição da riqueza e à construção de estruturas sócio-políticas também mais justas. E, nesses países, o papel dos meios de comunicação tem sido, com as exceções óbvias mas poucas, lastimável, pois criador de cortinas e nuvens de fumaça, impedindo se veja o panorama real.

Um exemplo que se tornou clássico: Fidel Castro. Por que é, ele, tratado como se fosse o único ditador do mundo? Por quê se respeitam governos da China, do Paquistão, invasões no Afeganistão, no Iraque, massacres de curdos por turcos – mas se insiste nademonização de Fidel Castro? E, agora, com Hugo Chavez? Pois a verdadeira pergunta que se há de fazer é uma só: quem é, na verdade, Hugo Chávez? É apenas o que aparenta – um homem com características externas e públicas ditatoriais, até mesmo de bufão – ou há valores que se não revelam por incomodarem privilégios estabelecidos?

No resgate de reféns seqüestrados pelas FARC da Colômbia, o papel de Hugo Chaves é mais do que um simples bufão, de um ditador de opereta: é o de um estadista e de um líder do movimento socialista latino-americano, movimento que existe por mais que se queira negá-lo.

Há um refrão que se repete entre os neoliberais de maneira quase bíblica, refrão que definia o perfil de Adhemar de Barros no passado: “Rouba mas faz.” O tucanato, o empresariado neoliberal, até mesmo os tolos e inocentes úteis costumam dizer, como se fosse elogio, de alguns líderes envolvidos em corrupção declarada: “Podem ser não-confiáveis, mas são competentes…” Valores morais parecem não mais entrar na avaliação e na análise até mesmo da imprensa que os acoberta.

Por isso, ninguém poderá condenar os partidários de Hugo Chavez que, a partir de agora, podem dizer, com os peitos estufados: “Pode ser bufão, mas funciona…”

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