Dinheiro e votos.

No Brasil, especialmente na administração dos municípios, há dois principais, entre muitos outros, centros de atenção dos gerente públicos: o que dá dinheiro, o que dá votos. Prefeitos não são mais administradores, mas gerentes de projetos, planos e entendimentos previamente estabelecidos. O povo, em suas necessidades e agruras, não tem vez, a não ser na clássica dimensão do “pão e circo”.

Qualquer obra pública está dimensionada – e basta ter inteligência e senso crítico apenas medianos para ver – nessa bipolaridade: o que dá dinheiro, o que dá votos. E, se for possível o somatório votos/dinheiro, melhor ainda. Mas, que se há de fazer, quando os tais e chamados “formadores de opinião” fazem parte disso ou querem ser obsequiados pelas “sobras do banquete” ou pelo “prato de ervilhas”?

Há uma nova Piracicaba surgindo. De outros imigrantes, de filhos de antigos imigrantes, de filhos e netos de uma Piracicaba antiga e, especialmente, uma Piracicaba de herdeiros. São os herdeiros, penso eu, as chaves-mestras de toda essa questão. Pois, se herdaram fortunas materiais, são herdeiros, também, de heranças espirituais. Para nos atermos, apenas, a dois exemplos que são parte de toda a nossa história: Dedini e Ometto. Eles sobreviveram ao caos das confusões, das transformações, das mudanças. Ao contrário do Império Morganti, sobrou-lhes o Império Dedini/Ometto, orgulho e símbolo de Piracicaba, que não foi devastada em suas famílias economicamente fundamentais como ocorreu com os Matarazzo, Pignatari, Romi, e os brasileiros quatrocentões de até as décadas de 1940/50.

Ora, Piracicaba está sendo sujeitada a apetites vorazes mas medíocres nos últimos tempos, como se uma aliança espúria entre prefeitura/empresas/bancos estivesse consolidada e parecesse definitiva. Nessa estrutura, entra, novamente, o binômio condenável e execrável: dinheiro e votos. Tudo, então, seria feito, pela administração, conforme a negociação com o poder econômico e a partir da demagogia populista. Atos, obras e ações são condicionados ao lucro. Financeiro e econômico ou político e eleitoral.

Exemplo claro. Na Avenida Carlos Botelho – em cujos arredores moram famílias refinadas vinculadas, de alguma ou sob diversas formas, às tolices de um neoliberalismo ultrapassado do PSDB – o prefeito Barjas Negri cria e determina, com fúria patética e inspirada no novaiorquino Rudolph Giuliani – a “tolerância zero”: nada de irregularidade, nada de poluição sonora, nem visual. E o resto da cidade? Ora, Barjas Negri precisa do aval da elite para, pelo menos, amenizar todo o seu passado de mediocridade populista. E, ao mesmo tempo, precisa de líderes populistas para conseguir a aliança almejada, idealizada, sonhada pelos líderes oportunistas: a aliança do povo e da elite. Ou seja: dinheiro e voto.

Há alguns anos, tentando colaborar com José Machado – que fazia um grande governo, na ordem estrutural de Piracicaba, em fundamentos – sugeri que ele “maquilasse Piracicaba”, como Luciano Guidotti sabia fazer: muitas pequenas obras, pinturas de sarjetas, coisas visíveis. Machado não fez. Perdeu a eleição, mas ficará como um grande governante. Barjas anda fazendo com competência e malandragem. Já está ridicularizado.

Essa Opinião faz parte de uma decisão definitiva do autor: ele será um simples contador dessa História de Piracicaba, em tudo o que escrever. Com exceção de Opinião: onde ele continuará sendo um observador.

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