O bem-amado.

São Paulo não é referencial para se avaliar a importância de Antônio Carlos Magalhães na vida nacional. Aqui, somos oposição a situações paternalistas, embora não passe de fingimentos ou ignorâncias, já que grande parte da elite paulista vive e sobrevive de paternalismos governamentais. No entanto, há um histórico paulista de luta em favor da democracia, contra a corrupção, mesmo que em teoria, e contra o que ainda chamamos de “coronelismo”, mesmo que resquícios dessa forma tirânica de poder exista em São Paulo, incluindo Piracicaba.

Esse paternalismo brasileiro tem históricos arraigados. E, se prevaleceu por tanto tempo no Nordeste, não se deve apenas e tão somente ao grave subdesenvolvimento de grande parte da região, apenas agora voltando a renascer e a florescer. Vem de longe, mesmo de quando era, o Nordeste, grande força econômica, com seus engenhos e suas lavouras de cana, com o café e com a agricultura. A análise não é adequada a um espaço de jornal, principalmente de um jornal eletrônico. No entanto, não se culpe o Nordeste pelo próprio subdesenvolvimento, nem se tenha o “coronelismo” como fenômeno apenas regional. A história é mais compleaxa.

Mas é no contexto do Nordeste, especialmente baiano, que se entende o surgimento de um Antônio Carlos Magalhães, seu poder, sua influência, seu estilo imperial, de chibata e de coroa. Para ACM, o Brasil era apenas um apêndice de sua Bahia. E isso todos os baianos sabiam, até mesmo os que lhe fizeram oposição. No passado, chamavam-se os líderes populistas da região de Vice Reis do Nordeste. ACM foi um deles. São Paulo haverá de tê-lo, sempre, como personalidade negativa, como liderança prejudicial à nação, como homem avesso à democracia e aos interesses do povo. No entanto, a Bahia idolatrou Antônio Carlos Magalhães e até mesmo os seus rivais lhe renderam respeito e homenagem. Ele se tornou o “Paínho” e esse é um título amoroso, da mesma forma como outras regiões nordestinas elegeram o Padre Cícero como “Paim Ciço”. Ora, em situações graves de abandono e de desesperança, como não se acreditar em homens que se revestem de auras providenciais, em personalidades que se voltam para o povo? O povo baiano foi, sim, servido por Antônio Carlos Magalhães. E por isso foi amado.

Um dos graves erros de São Paulo está na insistência em olharmos o Brasil pela óptica paulista. Isso é prejudicial a qualquer análise e a qualquer entendimento. Na realidade brasileira, São Paulo é um outro país. E do Primeiro Mundo, apesar de tanto ainda que nos falta. Mas é uma verdade: São Paulo, se isolado dos demais estados, apresenta índices que se equivalem – em cultura, qualidade de vida, cultura – algumas vezes, a países europeus ou a Canadá e Estados Unidos. Ver, com tais olhos desenvolvidos, os estados do Norte e Nordeste é ver com óptica deformada. O Nordeste é mais Brasil do que São Paulo. E, no Nordeste, a Bahia é uma outra realidade.

Antônio Carlos Magalhães morre e recebe, do povo baiano, uma despedida consagradora. Se, em vida, ele foi reverenciado por seu povo, por sua gente, o título maior ele o recebe ao ser sepultado: o Bem Amado. Ele que, para tantos, foi o Toninho Malvadeza.

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