E a Igreja não falhou

Davi Barros foi uma excrescência histórica. E, na verdade, sabíamos disso, os piracicabanos, seus conterrâneos, que conhecíamos sua trajetória. Davi Barros carregava, além de uma miopia cultural irrecuperável, toda uma grave e rançosa carga de preconceitos, de fanatismos e de ressentimentos. Antes e acima de construir, Davi Barros, vindo a Piracicaba – e realizando um antigo e frustrado sonho de ser Reitor da UNIMEP – esteve movido pela vingança, pelos rancores, pelo desrespeito, pelo espírito de desmanche e de desconstrução. Inutilmente, tentamos, quando ele se tornou Reitor da UNIMEP, lembrá-lo de seu umbigo plantado na Rua do Porto, de sua infância de pamonheiro. Davi Barros tem rancor da história, tem desprezo pelo passado.

Foram dois anos de tristezas, de desrespeitos e de ilegalidades, onde a luta e a reação somente foram possíveis pela esperança que todos, membros da comunidade acadêmica e da sociedade piracicabana, tivemos na verdadeira Igreja Metodista, a que esteve em silêncio. Ora, a grande verdade é que o tempo mundano é diferente do tempo da Igreja. O mundo e os seculares são apressados por estarem diante da realidade imediata, acreditando na ação e na reação, na construção e na rejeição aos destruidores. A Igreja é mais lenta, em sua confiança admirável na providência divina, nos sopros do Espírito Santo.

Igreja significa assembléia; bispos são pontes; colégio episcopal é comunidade. E há uma promessa evangélica, que inspira e anima igrejas cristãs, da presença de Cristo “onde dois ou mais estiverem reunidos em nome Dele”. A decisão da Igreja Metodista de, enfim, aceitar a demissão de Davi Barros – que ele pedira há meses, apesar de berrar por socorro há apenas alguns dias – mostra que, apesar dos estragos acontecidos, a Igreja Metodista viveu o seu tempo certo, de reflexões, de análises, de avaliações e, enfim, de conclusão. Os senhores bispos confiaram no sopro do Espírito Santo. E a definição não poderia ser outra senão a de, em caráter irrevogável e por unanimidade, acolher a demissão de Davi Barros, que foi além de suas sandálias e que ousou indevidamente de um poder limitado que ele pretendeu transformar em poder absoluto.

A reação do presidente do Conselho Diretor do IEP/UNIMEP – o goiano e economista Paulo Borges Campos Júnior – é, hipocritamente, baseada em questões de legalismos, ou seja, a de que apenas o Conselho Diretor pode homologar a demissão de Davi Barros. Na verdade, é um confronto, mais um dos muitos que têm procurado dividir a Igreja Metodista em grupos que se antagonizam por conflitantes entendimentos da missão metodista no Mundo. Em Piracicaba, a grande obra metodista, imorredoura, está na proposta educacional que, como árvore frondosa, se espalhou, dando sombra acolhedora a quantos sob seus galhos se abrigaram, a quantos de seus frutos comeram. A educação metodista, no Colégio Piracicabano e na UNIMEP, se tornou um paradigma de, digamo-lo assim, humanismo cristão, de um cristianismo voltado para a formação de espíritos altivos e de almas generosas.

A visão de Paulo Borges Campos Júnior – que mal saberia andar sozinho pelas ruas da cidade ou pelos campi da UNIMEP – é de um educador de mercado que, por isso mesmo, entende escolas e universidades como parte desse mercado. Paulo Borges, afrontando a decisão do Colégio dos Bispos, dá os últimos berros – o chamado “jus sperneandi” – dos perdedores. Faz apenas um papel legalista ou blefa, tentando tirar coelhos de cartolas. Poderá, com isso, prolongar pouco mais a crise, mas os desconstrutores foram derrotados pela sabedoria e pelo respeito ao espírito de Wesley e de Martha Watts.

Se é real que a “verdade prevalecerá”, a decisão do Colégio Episcopal metodista confirmou-o. A verdade prevaleceu. Davi Barros veio, viu e perdeu. Para o bem de todos, inclusive e especialmente o da fé metodista, que sai fortalecida pela sabedoria, em especial, de seus bispos eméritos e honorários. Piracicaba teve motivos para confiar, mesmo quando mais sombrios eram os sinais e mais desanimadores os silêncios. Que, em honra, pois, a essa nobre história metodista e piracicabana, se faça reconstrução com galhardia e ainda mais entusiasmo. Mais uma vez, a Unimep e o Colégio Piracicabano sobreviveram à fúria de ventos ensandecidos.

Deixe uma resposta