Plágio e rearmamento moral.

Houve um tempo, no mundo todo, em que se criou um movimento chamado “Rearmamento Moral”. A tal ponto chegara, na liberação dos costumes do Pós Guerra, a perda de senso de moralidade, o soterramento de princípios que, em quase todos os países, surgiu a consciência coletiva de ser necessário um basta nos excessos e na perda de limites. O “Movimento do Rearmamento Moral” conseguiu redespertar noções básicas de convivência, de moralidade, de ética, de civilização conforme princípios universais de decência e de honradez. Interrompeu-se o “vale tudo” a tempo de evitar os escombros da civilização ocidental.

Há, no ar e perpassando todas as nações do mundo, essa convicção cada vez mais sólida de que chegamos ao limite do suportável na leniência moral, na licenciosidade, na permissividade e, especialmente, na irresponsabilidade criminosa de homens públicos. Se o exemplo não vier de cima – da família, dos líderes da sociedade, dos ocupantes dos poderes constituídos – a tragédia social será irrecuperável, como já se nos mostram sinais claros e aterradores.

Piracicaba, ao contrário de muitas cidades brasileiras – incluindo São Paulo, governada pela mesma coligação que assumiu o poder em Piracicaba – parece anestesiada ou, então, dominada por uma covardia cúmplice e, por isso mesmo, criminosa. Finge-se não saber, finge-se ignorar, finge-se minimizar o que é grave, sério, importante, essencial. Veja-se, por exemplo, a gravíssima questão do empresário piracicabano que foi denunciado por grave envolvimento no escândalo dos “sanguessugas” em Brasília, em proximidade com o então ministro Barjas Negri. Em todo o Brasil, o empresário se colocou sob suspeição. Em Piracicaba, continuou sendo e ainda é responsável pelas principais obras públicas da administração do agora prefeito Barjas Negri. A justificativa: nada ainda está provado. E não importam os tantos inquéritos e processos abarrotando delegacias e juízos. Da mesma forma como não importou, assessores do deputado Thame serem condenados por questões fraudulentas na Prefeitura, continuando a ser assessores como se nada tivesse acontecido. Em Roma, sabia que a mulher de César, além de ser honesta, precisava mostrar ser honesta. Em Piracicaba, honestidade tornou-se questão de somenos.

Constranjo-me em abordar o assunto do plágio da Secretária Municipal de Educação, Giselda Ercolin, de trechos de obras literárias minhas. Ela foi condenada como plagiaria pela Justiça de Piracicaba. E a questão não está em ela ter plagiado obra minha ou de João ou de Pedro. A questão é ela ser plagiadora e uma Secretária da Educação não pode carregar essa mancha delituosa, pois é delito grave, um delito intelectual, com prejuízos morais e materiais sérios. O mínimo que se poderia esperar, quando se abriu inquérito e quando foi acolhida a denúncia, é que a Secretária se afastasse do cargo ou que o prefeito a afastasse. Nada aconteceu. E, agora, o mínimo que se deveria exigir é que ela se afastasse, ou por iniciativa própria ou por decisão do prefeito. Foi condenada em primeira instância. E é condenação, apesar de primeira instância.

Como uma criança, um aluno, pais de aluno poderão entender que a Educação de Piracicaba esteja sob o comando de uma professora denunciada por plágio? Ou a época é, mesmo, dos sanguessugas em todos os setores da vida humana no Brasil? Se for, entendem-se os clamores por esse novo Rearmamento Moral.

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