Serra e a boa vida de Champinha.

Ora, sabido sempre foi que o Governador José Serra – na melhor linhagem tucana, na qual se incluem ex-assessores seus em Piracicaba – nunca primou por revelar um mínimo de sensibilidade social. É uma estranha característica dos soi-disants sociais-democratas, que pouco têm do social e menos ainda de democratas. Por isso mesmo, José Serra precisa ser assessorado para não abrir a boca quando se trata de questões sociais, calando-se para não prejudicar ainda mais o que prejudicado já está.

Aconteceu, de novo, em relação ao marginal e psicótico Champinha – também conhecido como Monstro do Embu – que, quando menor, comandou o seqüestro, tortura, estupro e morte de um jovem casal de namorados. Champinha, internado na Febem, seria libertado ao atingir a maioridade, mas foi tal o clamor público que, com laudos médicos, destinaram-no a uma casa de custódia, onde está. E aí se revelou a outra face do problema, que levou o Governador José Serra a manifestar-se de maneira lastimável e deplorável: Champinha é hóspede de luxo.

Uma emissora de tevê filmou o local onde Champinha está, hoje, hospedado. E hospedaria e hospedagem são os termos exatos para definir a boa vida do bandido do Monstro de Embu. A emissora mostrou a casa destinada a Champinha, lugar com requintes, com móveis novos, quarto que muitos filhos até de empresários não têm, televisor último tipo. A casa hospeda Champinha com requintes de classe média alta, o que significa o dinheiro do povo estar sendo destinado a manter no luxo e com requintes um marginal declaradamente sem recuperação, a não ser que esta venha por obra de religiosos que acreditam na redenção de bandidos pela força da fé.

Foi um escárnio ver a hospedaria de Champinha, causando revolta e justa indignação em desembargadores e, em especial, no pai de Liana, a jovem torturada, estuprada e morta por Champinha. Não há, entre quem viu a reportagem, como deixar de indignar-se, pois, se é verdade que presos não merecem ser tratados como animais – como ocorre na maioria das prisões brasileiras – mais verdade ainda é que casas prisionais não são hotéis de luxo, cedidos gratuitamente a bandidos e psicóticos.

José Serra, no entanto, não pensa assim, da mesma forma como o seu Secretário de Justiça. Para o Governador José Serra, é preferível que Champinha esteja no bem-bom, assistindo a programas de televisão e no conforto da hospedaria, do que estar nas ruas voltando a cometer crimes. Ou seja: o crime compensa. José Serra deveria ter ficado quieto, da mesma maneira como um de seus discípulos, Barjas Negri, deveria ter silenciado quando autorizou a instalação da Febem em Piracicaba.

Champinha vive dias felizes na hospedaria do Estado. E milhões de paulistas estão vivendo amarguradamente, no suor de cada dia. Se José Serra também se indignasse com a injustiça oficial e pensasse numa alternativa prisional – como serviços prestados por bandidos para merecer o próprio sustento e o teto que os cobre – poderia contar com o aplauso dos paulistas. Justificando a hospedaria de Champinha, José Serra perdeu, no mínimo, feliz oportunidade de ficar calado.

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