Trânsito e caso de Polícia

A convicção popular de haver uma “indústria de multas” também em Piracicaba se acentua a cada mudança que se faz na fiscalização, toda ela voltada, como parece, a formar arapucas para os motoristas. Há situações ridículas e reveladoras de má fé: avenidas que, tendo sido traçadas para escoamento mais rápido do tráfego, se tornam uma roleta-russa de freadas e de acelerações, de 30 para 60, de 60 caindo para 40, retornando a 50, um abuso e um desrespeito contra o cidadão.

Há poucos dias, a Prefeitura revelou o montante de arrecadação, como se fosse um grande feito esse quase assalto ao bolso popular, destinada a uma das obras das muitas que a poluição visual oficial declara estarem feitas. Aliás, até consertos do cotidiano passaram a ser obras, como se uma faxineira tivesse que anunciar à sua patroa que limpou as vidraças da janela, que lavou os banheiros e assim por diante.

Ora, a administração pública está sob suspeita em praticamente todo o Brasil. Aqui em Piracicaba – e iremos abordar essa grave questão com mais amplitude – houve condenações, após 10 anos de idas e vindas processuais, em casos de corrupção descarada, ainda que, estranhamente, se absolvesse o responsável pela administração. É curioso: o PSDB, nas questões que envolveram o governo de Lula, ficou todo indignado com a tese de que “Lula não sabia”. E proclamava aos quatro ventos: o responsável é o presidente, que escolheu os assessores, que permitiu tudo acontecesse. Em Piracicaba, no governo Thame/Humberto, houve absurdos que clamavam aos céus. Os punidos foram alguns assessores, sem qualquer responsabilidade para os seus superiores, no caso, o então prefeito Thame. A Justiça, a cada sentença favorável a políticos, fica na berlinda, desanimando a população que ainda acredita na lei e no direito como únicas formas possíveis de se criar uma democracia séria e uma república verdadeira.

A “indústria de multas” em Piracicaba está próxima de se tornar um caso de Polícia. Basta um representante do Ministério Público sentir-se com pele de cidadão e determinar se apure o que está ocorrendo diante dos olhos de todos. Ou que a Câmara Municipal arregace as mangas e se ponha ao lado da população. Indefeso, o povo não tem outra saída senão fazer a sua defesa pessoal. Que é o começo da barbárie. Uma conclusão: ninguém agüenta mais esse desrespeito ao cidadão. Políticos não são cidadãos superiores, nem o povo é formado por cidadãos de segunda classe.

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