Um feriado ainda esdrúxulo.

Agora, é mesmo para valer: caiu numa segunda-feira, permitiu que houvesse um outro feriadão. Ora, desde quando se discutia a transformação do “Dia da Consciência Negra” em feriado municipal, manifestei minha preocupação, aqui e em Campinas. O simples fato de ter discordado tornou-me, então, alvo preferencial de xingamentos, incluindo o inevitável “racista”. E sem que os manifestantes percebessem, eles nada mais mostravam senão aquilo que eu temia: a serpente vinha gerando o ovo da intolerância.

Não se discute mais, por já provado e lamentado há mais de um século, o sangramento dos negros escravos, uma barbárie imperdoável à humanidade, semelhantemente à barbárie do holocausto. Mas, quando se coloca na mesa do tabuleiro do xadrez político-ideológico a noção de raça, o perigo aumenta. O “lobby” das minorias tem sido altamente produtivo. E passou a ser “politicamente incorreto” qualquer discordância a respeito. No entanto, o incorreto está no pensamento único, na falta de discussão, especialmente quando há, claramente, mostras de exclusão em movimentos que se dizem libertadores.

Esse feriado da “consciência negra” permite que radicais venham a pleitear, também, um feriado da “consciência caucasiana”, outro da “consciência mongólica”, as três grandes vertentes da raça humana, a negróide, a caucasiana e a mongólica. Ora, onde houver exclusivismo surgirá, automaticamente, a excludência. E movimentos excludentes são barreiras à conquista do que, hoje mais do que nunca, interessa à humanidade: a integração entre as diferenças.

Recordo-me de, no direito de manifestar opinião, ter manifestado meu receio de que movimentos, sabendo a nativismos, acabem sendo reducionistas. Ora, ninguém de consciência sã haverá de negar a existência de injustiças e preconceitos na realidade brasileira. Mas estes vão além dos negros, alcançando pobres, analfabetos, homossexuais, mulheres , crianças, idosos.

Agora, para valer, o feriado chegou. Como chegou, antes, o de Santo Antônio, de Nossa Senhora Aparecida, como chegará o da Assunção de Maria. Feriados religiosos são, também, numa visão republicana de país, excludentes. Por que os não-católicos são obrigados a vivenciar um feriado de inspiração católica. O mesmo se dá com feriados como os da consciência negra: por que os, digamos assim, de “consciência caucasiana”, têm que submeter-se, especialmente num tempo e num momento brasileiros em que mais necessitamos de trabalho, de esforços, de luta para combater exatamente a causa de toda essa confusão: a injusta distribuição de renda do país?

Já estou até antecipando: virá, ainda outra vez, o bombardeio de reações, dos que não admitem o controverso: racista. Mas continuo considerando esdrúxulo esse feriado. Como outros que fogem a qualquer compreensão democrática. O dia maravilhoso de congraçamento – o Dia Nacional de Ação de Graças – que se celebra na quarta quinta-feira do mês de novembro, desse feriado, com caráter universal, poucos se lembram. Talvez porque seja uma data includente, sei lá.

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